Frutos de uma geração que pregava a autoridade (não o
autoritarismo!) como item primordial para a educação, cometemos o equívoco de
querer fazer o contrário.
Havia uma época em que a hierarquia era respeitada na
maioria das famílias. Pais faziam papel de pais, de orientadores, de
educadores, preservando o afeto, sem perderem-se na necessidade de serem
“amigos” dos filhos. Sem o estresse atual, promovido pelas diversas
inconstâncias que nos cercam – concorrência no mercado de trabalho, violência,
dificuldades financeiras e bombardeio de informações pela mídia – havia mais
disponibilidade para estar presente na família, compartilhar, sentar à mesa
para conversar. Era mais fácil ter acesso às necessidades
básicas do seu humano: amor e pertencimento. Os pais não precisavam usar o
“sim” como moeda de troca pela ausência emocional e nem pela necessidade de
serem amados pelos filhos. O equilíbrio entre o amor e a exigência era mais
presente nos lares.
Hoje, os valores mudaram, os papéis se inverteram e as
famílias passaram a ser disfuncionais, ou seja, as suas funções não estão
corretas. Pais têm receio de comandar a família e filhos sentem-se poderosos
para isso. Os pais, na verdade, estão tomados pelo medo. É medo de apertar o
cerco e não dar sustentar a decisão, medo de soltar demais as rédeas e perder o
rumo, medo de dizer “não” e perder o afeto, a aceitação, “a amizade” que muitos
consideram ser a relação necessária entre pais e filhos.
Porém, quando encorajados a começar a dizer “não”,
sustentando a decisão pensada com coerência, os pais sentem-se empoderados, as
rédeas da família passam para as suas mãos, a ordem volta a ser estabelecida e
o sistema familiar passa a ser funcional.
O que precisamos, como pais, é separar as coisas. Mesmo
vivendo em meio ao turbilhão de emoções em que vivemos, com inversões de
valores, estresse financeiro, gatilhos negativos diários, numa era em que nos é
roubado o tempo que gostaríamos de dedicar aos nossos filhos, precisamos manter
os papéis. Continuar mantendo a função de orientadores, educadores e,
principalmente, ter a consciência de que não será a sequência de “sins” que
compensará todas as faltas que pensamos ter com nossos filhos ( afeto, tempo,
presença). Mas, ao contrário. Lembrar que são os “nãos”, com amor e autoridade,
que os farão cada vez mais resilientes para enfrentar o mundo conturbado em que
eles também vivem.
Por Romina Miranda
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