terça-feira, 24 de agosto de 2010

Olhar para si

 A primeira e maior perda que a codependência propõe é a de si mesmo. O abandono de si mesmo em favor de cuidados excessivos com o outro é a catacterística principal do transtorno que afeta familiares de dependentes de álcool e de outras drogas de todas os indivíduos que,m por algum motivo, foram obrigados a esquecerem-se de si mesmo para sobreviverem em meio a situação caóticas. Mas, para salvar-se do turbilhão, não há outro caminho. Nesta trajetória, ninguém escapa do encontro consigo mesmo.

"Passei 10 anos de minha vida vivendo a vida dele. Controlava seus horários, comportamento, analisava suas feições para saber o que ele poderia estar sentindo ou pensando. Se ele estava bem, nossa casa se iluminava e a esperança de dias melhores enchia minha alma de alegria. Quando ele estava mal, quando usava droga, meu mundo se transformava em um caos, tudo era escuridão, eu caia junto. Bem ou mal, minha vida era a dele. Meus sonhos eram os dele, minhas emoções também. Um dia, em uma sala para familiares, ouvi uma frase que muito me intrigou. Alguém dizia que era preciso aprender a cuidar de si mesmo, que era preciso colocar o foco sobre nós mesmos. Nossa! Aquilo era muito estranho para mim. O que era cuidar de si mesmo? Não fazia a mínima ideia. Desde cedo, havia me distanciado de mim mesma para ficar alerta aos problemas em minha casa. Precisava estar de ouvidos atentos caso meu pai chegasse bêbado e fosse agredir a minha mãe. Quando casei, precisava estar atenta aos movimentos de meu marido. Precisava estar de ouvidos atentos ao trinco da porta para ouvir se ela sairia para usar drogas ou para saber se ele já havia chegado, se não havia morrido nas madrugadas que sumia de casa. Com isso, meu distanciamento de mim foi se intensificando cada vez mais, a ponto de eu não saber exatamente o que significava cuidar de mim, olhar para mim. Eu tinha necessidades, desejos? Merecia algo de bom? Eu não sabia, sinceramente. Era muito triste admitir, mas eu não sabia do que gostava, do que não gostava, do que sonhava para minha vida. Não sabia de mais nada. Quando meu marido foi internado e ficou 9 meses na Comunidade Terapêutica, pensei que fosse morrer. Sabia que seria bom para ele, mas queria que ele voltasse. Quando o visitava e, com suas manipulações, era me pedia para sair de lá, que ele mudaria sozinho, que tudo seria diferente quando voltasse para casa, eu quase não resistia. Mas havia aprendido no grupo a pensar antes de agir, então voltava para a sala e os companheiros me ajudavam a entender que aquilo tudo era a minha enorme dificuldade em ficar só porque assim teria que olhar para mim, para minha vida, e isso eu ainda não suportava. Mas, não houve outra escolha. Meu marido começou a apegar-se à sua recuperação e não mais queria voltar para casa no meio do tratamento. Eu tive então que me olhar no espelho e quase não aguentei enxergar o que tinha me tornado. Foi assim que entreguei minha vontade e minha vida ao Poder Superior, como eu O concebia. Conecei então a dura caminhada de aprender a me amar”, G.O., codependente em recuperação.

2 comentários:

  1. Anônimo7/10/10

    Lendo este artigo percebi que sou uma codependente de minha mãe. Desde junho/2009 ela sofreu uma fratura no femur, foi operada, faz fisioterapia e não quer andar mais. Ela tem 80 anos, vive em uma cama hospitalar na casa dela junto com meu pai, vou lá de 3 em 3 horas e quando me atraso ela fica brava. Desde então não passeio, não me cuido, estou com os cabelos brancos, envelheci muito, estou com 50 anos e pareço ter 60 e não consigo sair desta situação. Para este meu caso eu posso frequentar as reuniões de codependentes?

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  2. Anônimo17/10/10

    Com cereza as reuniões do AE faram muito bem a vc. Veja no site onde tem uma reunião mais próxima.

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